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Mostrando postagens de dezembro, 2018

S34 - Ep24.06.18

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📷: @talitabenicio (Instagram) Você precisa de um hobby, ele me disse. Hobby? Clichê, caro e obrigatório. Tudo sinônimo de hobby, no meu dicionário. Não tenho grana para jogar tênis, zero paciência para ensinar inglês e entre pintar mandalas e lavar louça, prefiro Netflix. Porém, essa questão rondou por dias a minha mente e, 80kms afastada da minha mesa de trabalho, dei de cara com o paraíso Cactolândia. Modinha, pensei de cara. Daqui a pouco, tô pintando vaso de barro com legenda  #gratidão , resmunguei baixinho. Mas, a medida em que eu andava pelas ruelas lotadas das mais diversas espécies, a voz se afastava. Cactos e suculentas são plantas altamente independente, que se desenvolvem em situações adversas e, mantém sua própria reserva de água já prevendo a escassez em um futuro próximo. Eu, personificação da hostilidade, daria uma excelente espécie de suculenta da América do Sul, refleti. Me viro sozinha em 98% das situações, me desenvolvo bem ainda que com o mínimo d...

S34 - Ep14.07.18

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📷: @natalia_bzdak (Instagram) "Apareço mais tarde". Dormi no sofá. Acordei às 2, comi morango e assisti o restinho daquela série que você chamou "sem graça". Pulei para cama, lençol, cobertor e cobertor e com os 3, diagonalmente, fizemos uma equipe invencível. Sem barulho. Sem divisão. Tudo meu. Toda minha. Às 11, abri os olhos e avistei a montanha de roupas em cima do sofá contrastando com o sol na janela. Céu azul. Olheira de rímel. Sorri, aliviada. Há 5 dias espero por isso. Plantas molhadas, leite quente, blusão vermelho e meia rosa. Who cares? 1 fatia de queijo. Sofá. Meu. Mensagem no celular "não deu, desculpa". Sorri, agradecida. Aliviada. Convencida. Não vai dar mesmo. Nunca mais. Sorri, decidida. Play.

S34 - Ep26.07.18

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📷: @talitabenicio (Instagram) Saí da consulta, passei na banca e, já estava indo embora, quando meus olhos avistaram um pedaçinho da minha infância. Brilhando, quadradinho e doce, como as memórias que guardo daquela época. Vô Antônio voltava da Cidade (lá no Rio, é assim que a Velha Guarda chama o Centro) sempre com doces nos bolsos. Para mim, meus primos e as crianças da Pacheco. E hoje, voltei uns 28 anos. Cheguei a fechar os olhos e ouvir a voz dele me chamando de "ratinha branca". É, meu avô era peculiar - comprava 6 litros de sorvete Kibon no inverno e fazia meu café da manhã. Baixinho. Fofoqueiro. Chorão. A Vó Elia fazia a melhor mamadeira do mundo. Na hora de dormir, a regra era tabuada debaixo do travesseiro (para não esquecer) e "cesto de pão" na minha cabeça. A matemática não rolou, mas segundo ela, minha meteórica carreira como padeira já havia começado ali. Cuscuz amarelo, doce de banana, calor da moléstia e o sarcasmo familiar entre os Benic...

S34 - Ep24.08.18

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📷: @(fonte desconhecida) (Instagram) - Próxima sessão, você deita no divã. - Oi? Eu? Pegadinha lacaniana? - Você atingiu um ponto onde essa abordagem será útil. - Espera. Numa escala de 0 a 10, qual minha atual nota em loucura? Sei que você não vai responder, mas... - (ele sorri) - Tu ouviu bem o que falei sobre o trabalho? - Bons profissionais tomam decisões analíticas. - ... e guerreiros também usam e-mails nos campos de batalha, você deveria dizer. - (ele sorri) - Eu tenho quase 30 e ainda durmo com um bichinho de pelúcia no pescoço. - Não creio que abordagem freudiana seja a melhor, nesse momento. - Eu sigo me relacionando com caras que, claramente, não marcam pontos no bingo do amor. Ok, relacionar não é o verbo correto. Tá vendo? Nem sei definir isso direito... - Aplicativos de relacionamento. - Tem cura? - Você considera uma doença? - No meu caso mesmo, penso mais em maldição, karma, coisa pesada sabe? - Identificação de padrões, isso você...

S34 - Ep23.09.18

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📷: @casadacarol (Instagram) Tu tá equilibrada. Bateu e ficou quicando na minha mente, por horas. Eu sou inteligente, competente, decidida e audaciosa. Sou sagaz, irônica e já sei exatamente o que não quero. Já trabalhei em telemensagem, atendente de balcão, telefonista, estagiária, babá, secretária e fui padeira. Tem dias que eu acordo querendo beijar o português da padaria. Outros, dando coice no cobrador do busão. Detesto tudo o que todo mundo ama, e não acredito em quem diz gostar de mim. Deus está tanto na turbulência do vôo quanto no geladinho do meu estômago, quando estou muito, muito feliz. Parei de planejar o futuro, mas antes de levantar da cama, mentalizo que a blusa embolada no armário nem vai estar assim, tão amassada. Dou conselhos assertivos mas depois de mandar mensagem, viro a tela do celular para baixo, com medo da resposta que virá. Bordo, planto e escrevo, mas na hora da ansiedade, meu hobby é roer unha. Depois que você sai, desenvolvo roteiros inteiros do que ...

S34 - Ep21.11.18

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📷: @gio_quasirosso (Instagram) Tenho 4 novas cicatrizes. Lançamentos 2018/2019 que chegaram para fazer composé com as outras 8. Me acompanham diariamente e só lembro que existem, quando tiro a roupa. E não me envergonham em nenhum nível - afinal, quem as conhece já enfrentou coisa pior. Meu mal humor, por exemplo. Sei exatamente o motivo de cada uma, o dia que nasceram e o autor. Algumas aliviaram dores físicas. Outras, vieram para tentar amenizar meu péssimo relacionamento com o espelho. Funcionou? Fora essas 12, tenho outras muitas. E são tantas, que nem Kumon me ajudaria. A diferença é que dessas, a maior parte eu não tenho tracking. Não sei bem como e porque existem, já que as cicatrizes que trago aqui dentro, não vejo diariamente. Só as sinto em momentos específicos - inclusive, são esses os momentos que passo a maior parte do tempo evitando. Conflito familiar, um novo relacionamento ou um jeans 44. Não são tratáveis com anti inflamatórios e procedimentos estéticos não melhor...

S34 - Ep24.11.18

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📷: @rupikaur_ (Instagram) Feira livre. Rua cheia, barraquinhas, cores, cheiros e sons - incluindo os "ai", se o carrinho passa no pé. Quando criança, esperava ansiosa pelas Sextas. Minha avó me buscava no colégio para acompanhá-la na maravilhosa feira de Bento Ribeiro. Lá, só não tinha carro roubado e orgãos humanos (isso é Acari). Todo o resto sim, você encontrava. Frutas, legumes, flores para despachos de umbanda, frango, peixe (morto e vivo), papel de carta Cartinge e o seu Antônio, que segundo a minha avó, segue sendo o mago das panelas - desempena, reavive e bota pressão. Aqui em São Paulo, Quarta é dia de almoçar pastel na rua do lado "da firma". E eu, como boa nova moradora, estou semanalmente marcando ponto. Mesmo sem fome. Mesmo com a fruteira cheia. Passear pela feira é como voltar no tempo - vou de 2018 para 1991, passando por 2013, quando na Índia, aprendi entre outras coisas, a arte da barganha.  Nunca entendi porque chamam os otários de ban...

S32 - Ep30.11.16

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📷: @nicolfai (Instagram) 20 minutos. Foi o tempo que levei para perceber que algo estava diferente. De carona, num Drive-Thru sem fila, carro parado na janela de entrega. Era Manaus e o carro, 1.0 básico. Sem ar condicionado, a temperatura beirava uns 87 graus e nada se movia. Nem uma folha, nem o atendente do suposto serviço expresso, nem eu.  Era só 1 batata frita grande. Loja vazia. Tarde da noite. Ninguém aparecia na janela. 5, 7, 9 minutos. Meu cérebro dizia “caralho, abre a porta, bate na janela e grita DÁ PARA ME ATENDER”, mas meu corpo não reagia. Sabe aqueles sonhos que você tenta gritar, e não sai nem um ai?! Foi assim. 11, 13, 15 minutos “MALDITOS, ninguém precisa de MBA para fritar batata, cadê essa merda”. Minhas mãos pingavam de um suor gelado e o buraco no meu estômago que me levou até ali, agora engoliu a minha alma. 20 minutos. Sentada. Estática. Cataléptica. Sabia onde estava, com quem estava e o que estava fazendo. Mas, a partir daquele momento, de...

S28 - Ep06.12.12

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📷: @julian.landini (Instagram) Hoje, explicando para um indiano a "lógica dos relacionamentos amorosos" na sociedade brasileira, me dei conta de que, de fato, não falta só lógica - falta consideração, respeito e amor. Amor pelo próximo, amor próprio. Falta vergonha na cara. Falta honestidade. Berramos aos 4 cantos que estamos em busca da pessoa certa, fazemos um test drive aqui, alugamos por 7 dias ali, brincamos de casinha acolá e no fim das contas, péeeeee, game is over. Lavô tá novo, apagou do celular, bloqueou do facebook. Zerou o cronômetro. Volta lá pro fim da fila e começa tuuuuudo de novo. Tradicionalmente, a cultura indiana considera os "casamentos arranjados", onde os pais são responsáveis por todo o processo, desde contactar a família do pretendente, fazer o match do horóscopo, negociar dote, organizar o primeiro e único encontro até definir a cor do Saree que a noiva vai usar. Será que não é melhor assim?! E quem é mais feliz - a ge...